Luiz Carlos Pinheiro Machado

Luiz Carlos Pinheiro Machado (1928-2020)

Profissão e reconhecimentos:

  • Graduado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1950
  • Doutorado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1959
  • Professor titular da Universidade Católica Argentina,(1974/78)
  • Professor convidado da Universidade de Buenos Aires (1974/80)
  • Professor participante do curso de Agroecossistemas da UFSC
  • Professor adjunto do CCA/UFSC 1980
  • Professor titular  CCA/UFSC 1994 
  • Professor catedrático aposentado de Zootecnia Especial da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Criador e professor da primeira disciplina de Etologia para cursos de Ciências Agrárias da América Latina (1980)
  • Assessor superior do Programa de Melhoramento da Ovinocultura da Patagônia Chilena
  • Assessor superior em projetos de desenvolvimento agrícola no Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia e Paraguai
  • Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (maio de 1985/ abril de 1986)
  • Fundador (1955) e presidente – três mandatos – da Associação Brasileira de Criadores de Suínos
  • Fundador do Instituto André Voisin (1970) 
  • Presidente da Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul (1963/64)
  • Presidente da Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil – FAEAB – (1983/84)
  • Mérito Agronômico no Brasil (1983)
  • Comenda do Legislativo Catarinense (2013)
  • Medalha do Mérito do Sistema Confea/Crea e Mútua (2015) 

Luiz Carlos Pinheiro Machado, também conhecido como Pinheirão, nasceu em 03 de julho de 1928. Empolgado pelo seu pai, Dulph Pinheiro Machado, que era professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), se formou em Agronomia na mesma universidade em 1950. Logo começou a lecionar como professor catedrático da cadeira de Zootecnia 1 – Gado leiteiro, suínos, aves e nutrição animal, na Faculdade de Agronomia e Veterinária do Rio Grande do Sul em 1952. E com o decorrer dos anos, se tornou livre-docente (doutor da época) em 1959 e catedrático em 1961 na mesma universidade. Enquanto professor, atuou junto à Epagri (antiga Acaresc) para treinar técnicos sobre suinocultura, gado leiteiro e nutrição animal em Santa Catarina. Já havendo uma área em Taquara/RS, presente em uma bacia leiteira, se sentiu na obrigação de implantar um projeto de produção de leite. Em 1964, representantes da ditadura decidiram expurgá-lo da UFRGS, retornando com anistia à atividade apenas em 1979. Assim, ele fez uma viagem à França, e conheceu as obras de André Voisin e logo que regressou ao Brasil instalou um modelo seguindo as “leis universais do Pastoreio Racional” enunciadas pelo Voisin, enquanto conversava e discutia sobre o modelo com seu colega Nilo Romero, outro pioneiro na aplicação das ideias de Voisin. Nesse tempo, deu mais atenção à “Fazenda Alegria”, aprimorando e fazendo experimentos para a formulação da ideia do Pastoreio Racional Voisin, ao mesmo tempo que recebia diversas visitas e realizava cursos em sua propriedade, inclusive realizando experimentos da UFRGS e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Também escreveu diversos livros, como o Manual do Leiteiro (1968) e Os Suínos (1967, em português e espanhol). Destaque para o livro Os Suínos, pela influência causada na alimentação do brasileiro, que passou a consumir mais carne de porco nos anos 60. 

A militância política é outro destaque da trajetória de Luiz Carlos Pinheiro Machado. Em 1945 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e militou no movimento estudantil durante o pós-guerra. Enquanto docente, era tido como líder expressivo para os alunos, por esse motivo foi expurgado em 1964. Dessa experiência, Luiz Carlos resumia: “Militei enquanto professor porque acredito que se o profissional tem ideologia, ele tem horizonte na vida”. Desde o início dos anos de 1990, foi professor de diversos cursos do MST (em níveis técnico, graduação, especialização e mestrado) e acompanhou de perto a implementação de centenas de projetos de PRV em assentamentos da Reforma Agrária em todo o país.

No anos 70, por meio do Projeto Pujol em São Paulo, Pinheirão verificou a morte de bovinos por causa desconhecida, e foi descoberto a presença de terra no rúmen dos animais, e a partir da observação do comportamento, verificou a dominância social,  que fazia com que o acesso de subordinadas fosse feito depois das dominantes, quando a água apresentava suspensão de solo e dejetos dos dominantes, quando o professor propôs bebedouros em piquetes, sendo este seu primeiro contato com a etologia. Com isso, em uma viagem para França conheceu trabalhos de etologia o que o inspirou na ideia de ministrar a primeira disciplina de Etologia para cursos de ciências agrárias da América Latina na UFSC. A disciplina foi formada após a anistia, em 1980, a partir do contato que havia com os professores Mário Luiz Vincenzi (Chefe do departamento de Zootecnia da UFSC) e José Antônio Ribas Ribeiro (Diretor do Centro de Ciências Agrárias – CCA/UFSC), que foram alunos do Pinheirão na UFRGS.

Seu trabalho enquanto esteve na presidência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre 1985 e 1986, foi marcado pelo combate à corrupção, mas também foram feitos esforços para instalar a Etologia no Brasil, como a tentativa da criação de um Centro de Pesquisa em Etologia e Bem-estar Animal, além de trazer Andrew Fraser em algumas unidades da Embrapa para falar sobre Etologia. Porém, houve muita resistência de pesquisadores da instituição.  

Em 1970, co-promoveu um dos primeiros movimentos pela agroecologia no Brasil, e entre 1983 e 1984, enquanto presidia a Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil (Faeab), ajudou a fomentar a agricultura orgânica e a agroecologia.  Defensor da produção de alimentos sem agrotóxicos, Luiz Carlos batalhou contra o uso de venenos na agropecuária brasileira. Tema abordado em seu livro A Dialética da Agroecologia – Contribuição para um Mundo com Alimentos sem Veneno (2014, em português e espanhol) escrito junto de seu filho, Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, fundador e coordenador de nosso núcleo de pesquisa.

O Projeto Alegría, antes do seu abandono em 2002, era um laboratório PRV que, pelos conhecimentos aí produzidos durante mais de 3 décadas de trabalho disciplinado e sempre em evolução, permitiu ao Professor Pinheiro escrever a obra de literatura agrícola intitulada Pastoreo Racional Voisin – Tecnologia Agroecológica para o Terceiro Milênio (2010, em português e espanhol), inicialmente escrita no final dos anos 90 em português e posteriormente editada e traduzida para o espanhol já no início do século XXI, e desde então milhares de cópias foram reproduzidas e vendidas em todo o mundo, até hoje, na verdade, mais atual do que nunca. Este se tornou praticamente o manual para todos os agricultores interessados, seja na pecuária orgânica, que seria o ideal, e se não, pelo menos, em minimizar seus custos de produção maximizando a produtividade de sua produção.

Paralelamente à docência, a redação de trabalhos técnico-científicos sempre fez parte da rotina do engenheiro agrônomo, que tem publicados mais de 400 artigos em jornais de circulação nacional e internacional, além de 225 projetos voltados para a área rural. Toda essa dedicação à pesquisa, ao ensino e ao desenvolvimento social é reconhecida. Já foi paraninfo de 40 turmas de engenheiros agrônomos em diversas universidades no Brasil, além de ter sido galardoado com prêmios e honrarias. Entre eles, o Mérito Agronômico no Brasil, em que foi o único eleito por unanimidade, em 1983, a Comenda do Legislativo Catarinense (2013), em consideração à importante trajetória acadêmica e militância política de longa data e mais recentemente, em 2015, indicado pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) para receber a Medalha do Mérito do Sistema Confea/Crea e Mútua.

Ao todo, realizou 223 projetos de PRV, abrangendo mais de 100 mil hectares não só no Brasil, mas também no Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, Paraguai, Venezuela, Cuba, Espanha, França, Itália, entre outros. Sendo seu último curso de PRV realizado no início do ano de 2020, no Estado do Mato Grosso, Brasil. 

Às 23:30 do dia 02 de julho de 2020, trinta minutos antes de completar 92 anos, faleceu devido a complicações de SARS-COV-2 (coronavírus), encerrando uma vida de belos ensinamentos e deixando um legado para produção de alimentos limpos e pela preservação do planeta.

Para saber mais sobre o professor Pinheirão assista os vídeos disponibilizadas na playlist do Youtube:
https://youtube.com/playlist?list=PLBLgAdcuSpVwDgquN6pYKPLFebqAqhAWy

Para saber mais sobre suas publicações, acesse seu currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0157449555633368

E para saber mais sobre a Fazenda Alegria, leiam os textos que o próprio professor escreveu para os I e III Encontro Pan-Americano sobre Manejo Agroecológico de Pastagens (2011 e 2018):
http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/cad/article/view/12711/7025
http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/index.php/cadernos/article/view/2534/2255